segunda-feira, 2 de maio de 2016

Carma é missão



Edição 546 - Publicado em 08/Fevereiro/2014 - Página 16

O poder que existe em você é ilimitado. Por mais difícil que seja seu destino, você pode mudá-lo definitivamente. O Budismo Nitiren ensina que não há adversidade ou sofrimento insuperáveis. Sim! É possível eliminar totalmente o carma negativo. Os sofrimentos cármicos são erradicados por completo por meio da aplicação do princípio de Ganken Ogo — a transformação do carma em missão. Nesta matéria, saiba como conquistar a felicidade absoluta e como eliminar os sofrimentos. Faça tudo isso agora, neste exato momento.
Liberte-se completamente
“Os sofrimentos do carma desaparecerão definitivamente — essa é a grande convicção de Nitiren Daishonin”, diz o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda. No escrito “Abertura dos olhos”, o Buda Nitiren Daishonin fala de si mesmo como alguém “completamente livre” das graves ofensas cometidas no passado. Segundo o líder da SGI, “isso significa que Daishonin erradicou totalmente seu carma negativo” (TC, ed. 454, jun. 2006, p. 44).
Parece inacreditável que o carma negativo possa ser eliminado por completo. É ainda mais difícil acreditar que a transformação cármica seja instantânea. Mas, tenha certeza, a eliminação é mesmo instantânea. Com o Nam-myoho-rengue-kyo, isso é perfeitamente possível. Para funcionar, você precisa acreditar que é possível e se libertar de antigos conceitos que o mantêm preso ao destino.
Sua liberdade começa com a transformação do carma em missão [Ganken Ogo].
Esse princípio esclarece que você, ao mudar a maneira de enxergar o carma, muda a sua realidade. O carma não é um destino imposto por uma força transcendental, e sim a missão que escolheu como oportunidade para evidenciar a força infinita que existe em você.
Até aqui, você pode pensar assim: “Legal, meu carma agora é minha missão”. Porém, nada acontece, e sua realidade é a mesma. Isso ocorre porque transformar carma em missão “não é uma questão de simples ponto de vista. A mudança do mundo começa com a mudança fundamental de nossa mentalidade. Este é um princípio-chave dentro do Budismo. A poderosa determinação de converter o carma em missão transforma radicalmente o mundo real”, defende o presidente Ikeda (TC, ed. 451, mar. 2006, p.10).
Mudar a mentalidade é transformar a escuridão em iluminação. A crença que existe em seu coração é o que determina sua forma de pensar, falar e agir. Portanto, essa ação que se desdobra em pensamentos, palavras e ações é um efeito da sua condição interna ou do seu estado de vida. Se esse estado for dominado pela escuridão, você sofre. Se for um estado iluminado, você é feliz e transforma sua realidade.
Por isso, uma simples mudança na sua maneira de pensar, falar e agir não transforma a sua realidade verdadeiramente, caso seu estado de vida permaneça o mesmo. Por exemplo, mesmo que pense positivamente, fale coisas boas ou faça boas ações, sua vida não muda. Ela não transforma porque a raiz da escuridão não mudou.
Essa ação que se desdobra em pensamentos, palavras e ações é o seu carma. A palavra “carma” significa ação. Sendo assim, carma não são suas circunstâncias de vida, mas a maneira de encará-las. Carma é a forma de pensar, falar e agir.
Imagine que neste momento esteja passando por dificuldades financeiras. Carma não é falta de dinheiro, contas atrasadas etc. Carma é a maneira como encara esses problemas, eles só serão seu destino ou seu carma se não os enfrentar.
O presidente Ikeda confirma isso ao dizer que “as dificuldades somente se tornam nosso carma ou destino se fugirmos delas sem uma luta. Dessa maneira, a derrota para um budista não está em não encontrar dificuldades, mas em não desafiá-las. Enquanto vivermos, devemos lutar. Precisamos viver e lutar tenazmente até o fim” (TC, ed. 454, jun. 2006, p. 44).

Um filme que se repete

Ao pensar sobre o carma, o que você sente? Medo ou coragem, desespero ou esperança? Você vive com medo dos efeitos que poderão surgir?
Se diante das adversidades você reage com esperança, coragem e convicção, está livre das correntes cármicas.
Ao ensinar como transformar o carma, Nitiren Daishonin causou uma revolução diantes dos conceitos predominantes de sua época. Com isso, as pessoas reagiram fortemente porque estavam muito apegadas à visão do carma ensinada por outras escolas budistas. Tais visões seguiam sutras budistas provisórios e o senso comum de que era impossível a transformação do destino. O máximo que poderiam fazer era se resignar e aceitar a realidade imposta por uma força transcendental ou a própria lei de causa e efeito, que as pessoas acreditavam existir fora delas.
A visão das outras escolas é chamada de “ideia passiva de causalidade”. Essa foi a ideia propagada quando o Budismo foi introduzido no Japão e que “Nitiren Daishonin chamou de ‘lei geral de causa e efeito’” (TC, ed. 454, jun. 2006, p. 44).
O conceito da lei geral de causa e efeito expõe basicamente que o carma somente pode ser transformado quando o indivíduo sofrer os efeitos de todas as causas realizadas.
Certa vez, o presidente Ikeda explicou a lógica da lei geral de causa e efeito: “Não importando onde possamos estar, vivemos sob o efeito de tudo o que fizemos no passado. Diante dessa limitação regida pela causalidade, o que resta à vida é apenas se arrastar pelo destino imposto pelo carma. Assim sendo, nosso futuro é por demais obscuro, e nós, mortais comuns, achamos impossível mudar nosso destino” (Guia Prático do Budismo, p. 4).
Ainda a respeito desta questão, o presidente Toda disse: “Se nesta fria lei de causa e efeito [lei geral de causa e efeito] estivesse encerrado todo o Budismo, então teríamos de considerar o nosso destino fixo e imutável. Seríamos impelidos a viver passiva e timidamente para nunca errarmos” (Ibidem).

O drama do destino

A lei geral de causa e efeito continua muito presente nos dias de hoje e é o que as pessoas mais se apegam quando o assunto é carma. Essa mesma ideia está presente em vários outros ramos do conhecimento humano.
O psicanalista, livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Christian Ingo Lenz Dunker, escreveu:
“Muitos pacientes chegam ao consultório de psicanalistas declarando que sua vida está assombrada por uma mesma decepção, um mesmo desencontro, uma mesma situação que se repete ao longo do tempo. Sigmund Freud chamava isso de neurose do destino, referindo-se a um sentimento permanente de fatalidade que se impõe a nossos esforços de mudança e transformação. É possível ver isso em inúmeras situações: no sofrimento do benfeitor sempre retribuído com ingratidão; da mulher que termina traída em todos os relacionamentos ou dos amantes que sempre enfrentam os mesmos problemas, independentemente de qual parceiro escolham. Esse é o autêntico problema da tragédia: quanto mais a pessoa procura fugir do destino, melhor ele se cumpre.
Também os heróis gregos da repetição ilustram o processo: Sísifo levando sua roda montanha acima; Atlas segurando o peso do mundo; Prometeu acorrentado ao próprio fígado, em contínua consumação pelos abutres; as Danaides tentando encher o tonel de água sem notar que o líquido sai pelo furo não percebido; Cassandra, condenada a dizer permanentemente a verdade sem que ninguém acredite em suas palavras” (Revista Mente e Cérebro, edição especial 35, p. 36).
Tendo esses exemplos como base, uma pessoa que vive de acordo com a lei geral de causa e efeito sente muito medo de agir, pois quer controlar todas as causas que faz. Vive constantemente se policiando com mil olhos. Dificilmente, agirá porque só o fará depois que souber o tamanho do seu carma.
A tendência desse indivíduo será a de sempre agir da mesma maneira, nunca tentar algo novo, com isso sua vida não muda.
Nitiren Daishonin, no escrito “Carta de Sado”, observa: “É impossível sondar o carma de uma pessoa” (WND, p. 303). Portanto, você nunca saberá o tamanho do carma. Quem acredita na lei geral de causa e efeito sofre porque se sente incapaz de lidar com os desafios da vida diária. Simplesmente a felicidade se torna impossível de existir no cotidiano desse indivíduo. O passado dele é lamentação, o presente é inércia e o futuro amedrontador.
A psicologia compartilha da mesma visão apresentada por Daishonin de que é impossível saber a extensão do carma, conforme se constata nas palavras do Dr. Dunker: “O neurótico anseia de forma ardente saber exatamente qual é a cota de liberdade que lhe foi destinada, ou seja, quanto ele tem no ‘banco da fortuna’ [destino] para realizar a viagem da vida, para montar o espetáculo de sua existência, para apostar no jogo da existência. Se soubéssemos disso antecipadamente, poderíamos avaliar nossas escolhas de forma mais justa e parcimoniosa. Mas este não é o caso — e nem o acaso. Temos de viver sem saber se estamos tentando atravessar o Oceano Atlântico em um barquinho de papel, ou, em vez disso, se estamos nos trancando no condomínio seguro e asfixiante de nosso eu, para nos defender de perigos imaginários, feitos de água e açúcar, em nosso pequeno copo particular” (Revista Mente e Cérebro, edição especial, p. 37).
Além disso, a ideia passiva da lei geral de causa e efeito faz o Budismo ser encarado como uma religião escapista, cujo ensinamento visa atingir um estado de paz interior por meio do isolamento em retiros e montanhas. Essa noção errada faz as pessoas desejarem uma utopia ou um paraíso afastado da realidade.
No cotidiano, essa ideia utópica pode ser traduzida como aqueles pensamentos de que “algum dia serei feliz” ou “quando eu viver em tal situação ideal, ficarei bem”. Essa ideia transmite a crença de que a felicidade existe nas circunstâncias positivas e que as dificuldades devem ser evitadas a todo custo.
O presidente Ikeda disse que “essa filosofia incita as pessoas a almejar uma utopia ou um paraíso afastado deste mundo de sofrimento. Enquanto permanecerem apegadas a essas visões, não reconhecerão o espírito, a essência da prática budista” (Explanação Abertura dos Olhos, p. 272).
Sobre a visão correta do Budismo Nitiren, o líder da SGI afirma: “O Budismo genuíno não anseia por uma utopia em algum reino imaginário. Ao contrário, é uma filosofia que busca transformar a realidade e que aspira à construção de um mundo ideal, aqui mesmo, neste conturbado mundo saha. O foco do Budismo é despertar as pessoas para seu poder inato, capacitando-as a desenvolver a força espiritual para superar quaisquer tempestades que venham a encontrar no cotidiano” (Ibidem).

Entenda a causalidade da Lei Mística

O Budismo propõe que para mudar o carma é preciso encarar as dificuldades e as resolver definitivamente. Para ter sucesso, você deve mudar em seu coração o tipo de lei de causa e efeito em que acredita e baseia a sua vida.
Vamos esclarecer três pontos sobre a lei de causa e efeito:
1. Existem dois níveis da lei de causa e efeito.
No nível superficial está a lei geral de causa e efeito; e no profundo, a causalidade da Lei Mística [Myoho-rengue].
2. Ambos os níveis determinam e influenciam seu estado de vida interior. Eles influenciam a sua mente que, por sua vez, define a sua realidade.
3. A lei geral de causa e efeito prende a sua vida aos nove estados de vida. Por outro lado, a causalidade da Lei Mística revela o seu estado de Buda.

Resumindo

A lei geral de causa e efeito se limita somente aos nove estados porque você fica preso às circunstâncias externas.
A causalidade da Lei Mística manifesta seu estado de Buda porque o liberta das circunstâncias e evidencia seu potencial interno ao máximo. Essa iluminação transforma a sua realidade.
A respeito disso, o presidente Ikeda diz que “O Buda Sakyamuni esclareceu o princípio da causalidade, que influencia e determina o estado de vida de uma pessoa aqui e agora, a cada instante” (TC, ed. 470, out. 2007, p. 41).
De acordo com o princípio budista dos dez estados de vida, todas as pessoas têm o potencial para manifestar os dez, do estado de Inferno ao estado de Buda. Mas por que é tão difícil manifestar o estado de Buda e tão fácil manifestar os outros nove?
Porque a lei de causa e efeito do estado de Buda — a causalidade da Lei Mística — não é conhecida pelo senso comum e é difícil de ser aceita devido ao apego das pessoas com a lei geral de causa e efeito.
A lei geral de causa e efeito está mais arraigada no senso comum e, por isso, as pessoas se familiarizam melhor com ela. Exemplos da facilidade do raciocínio da lei geral: uma causa positiva leva a um efeito positivo, uma causa negativa leva a um efeito negativo. Ou seja, você faz uma causa e recebe o efeito dessa causa no futuro. Outras visões sobre causa e efeito se assemelham à lei geral; por exemplo, a lei da ação e reação, a do olho por olho e dente por dente etc.
Várias religiões, filosofias e ciências adotaram essa lei geral como parte integrante de sua visão de mundo.
Do ponto de vista da causalidade da Lei Mística, causas positivas ou negativas manifestam o efeito do estado de Buda [princípio budista da transformação do veneno em remédio]. Qualquer circunstância serve como estímulo para evidenciar o estado de buda.
Outro ponto, causa e efeito ocorrem ao mesmo tempo, não existe um tempo entre os dois.
Da ótica da causalidade da Lei Mística, as circunstâncias da sua vida presente não são consequências de causas de vidas passadas porque existe um tempo entre causa e efeito, que não são simultâneos. Sendo assim, essa visão não corresponde à causalidade da Lei Mística. O presidente Ikeda confirma isso ao escrever: “Quando Sakyamuni insistiu: ‘Não procure explicações para o seu retrocesso, atue para o seu avanço’, criticava a visão de mundo do seu tempo, que considerava as circunstâncias de nosso nascimento na presente existência determinadas pelo carma acumulado em vidas passadas” (TC, ed. 537, maio 2013, p. 20).
Ainda sobre o mesmo tema, em outra ocasião o líder da SGI escreveu: “A causalidade, por meio da qual o carma de vidas passadas se manifesta em nossa presente existência, é a que denominamos ‘causalidade geral’ [lei geral de causa e efeito], caracterizada pela não simultaneidade de causa e efeito. Ao contrário, a ‘causalidade simultânea’ alude à causalidade com a qual revelamos nosso estado de Buda, ou seja, vencemos nossa ignorância neste momento e tomamos contato imediato com a força vital do estado de Buda inerente. A primeira ideia de causalidade representa uma ‘mudança sequencial’, enquanto a segunda constitui uma ‘mudança instantânea’” (TC, ed. 491, jul. 2009, p. 42).

Dois níveis de causa e efeito

Reforçando a ideia sobre os dois níveis de causa e efeito, leia a explicação do presidente Ikeda:
“Há dois níveis do princípio de causa e efeito. O primeiro é o da retribuição cármica simples. Ou seja, cada um recebe efeitos positivos ou negativos conforme as ações praticadas. Esse raciocínio ensina que realizar boas causas conduz à felicidade, à alegria, à tranquilidade, enquanto cometer causas negativas resulta em sofrimento, dor e angústia.
O segundo nível vai além dessa ideia e revela um princípio de causalidade mais profundo, que rege todas as manifestações da vida. O Budismo Nitiren ensina que, quando manifestamos o supremo estado de Buda inerente, realizamos o bem mais elevado e, por esse motivo, instantaneamente consolidamos um estado de felicidade inabalável. Em outras palavras, manifestamos o efeito ou o fruto da iluminação, revelando nossa natureza de Buda inata como seres dos nove mundos [mortais comuns]. (...)
Esse nível mais profundo de causalidade exposto pelo Budismo difere da lei geral de causa e efeito sujeita ao marco temporal. O que funciona nesse nível mais profundo é a simultaneidade de causa e efeito, que ensina que, mediante a mudança em nossa mente ou coração, manifestamos, instantaneamente, nosso estado de Buda intrínseco, aqui e agora” (TC, ed. 470, out. 2007, p. 41).

Transforme carma em missão

Em sua primeira visita ao Brasil em outubro de 1960, o presidente Ikeda participou de uma reunião de palestra e incentivou uma viúva que, diante das dificuldades extremas, tinha desistido de viver. O incentivo dele serviu como orientação para todos os presentes que viviam situações parecidas, e cabe para nós ainda hoje. Em sua orientação, ele explica sobre o princípio de transformar carma em missão [Ganken Ogo]. Suas palavras resumem o que foi apresentado até aqui, assim como consta no capítulo “Desbravador” da Nova Revolução Humana:
“O Budismo expõe realmente que, se uma pessoa comete algum mal contra seus semelhantes, terá de trilhar um curso de infelicidades como resultado dos atos negativos do passado. Entretanto, este é apenas um aspecto dos ensinamentos budistas. Se a vida se restringisse apenas a isso, as pessoas teriam de viver numa constante insegurança justamente por não conseguirem saber as causas negativas de existências passadas, tendo de carregar inclusive um grande complexo de culpa. Além disso, o destino seria algo previamente delineado e provocaria nas pessoas o desinteresse pela própria vida, tornando-as adeptas de um modo de vida passivo no qual a única preocupação seria a de não cometer nenhum mal.
O Budismo de Nitiren Daishonin transcende o limite da concepção superficial da lei geral de causa e efeito, de castigo e recompensa, e revela a natureza real da causalidade e a forma de como manifestar o estado de pureza da vida existente desde o infinito passado. Isso significa que uma pessoa deve viver em prol do Kossen-rufu consciente da missão como Bodhisattva da Terra.
O Budismo elucida um princípio chamado Ganken Ogo [Transformar carma em missão]. Significa que uma pessoa que deveria renascer numa circunstância de felicidade, como resultado dos benefícios da prática budista, nasce em meio às pessoas infelizes mediante seu próprio desejo justamente para propagar a Lei Mística.
Se uma pessoa que vive como uma rainha, sem dificuldades ou problemas, disser que se tornou feliz graças à prática do Budismo, ninguém ficará surpreso. Contudo, quando uma pessoa doente, pobre e menosprezada por todos transforma sua vida por meio da prática budista, tornando-se feliz e líder na sociedade, estará comprovando brilhantemente a grandiosidade desse ensinamento. Com isso, provocará em todos o desejo de seguir essa prática da fé. Se uma pessoa que sempre sofreu de pobreza conseguir ultrapassar essa situação, causará uma grande esperança em todas as pessoas que passam pelo mesmo tipo de sofrimento na vida diária. Por outro lado, quando uma pessoa muito doente se torna saudável e repleta de vitalidade, acenderá a chama da coragem no coração dos doentes. E aquelas que passaram por aflições por causa da desarmonia familiar e construíram uma família feliz se tornarão modelos para as pessoas que possuem problemas de relacionamento dentro da família. Da mesma forma, se a senhora, que perdeu o marido, se tornar feliz neste país cujo idioma sequer sabe falar e criar seus filhos de maneira admirável, será um espelho para todas as viúvas. Mesmo as pessoas que não praticam o Budismo vão procurá-la também em busca de conselhos e incentivos. Quanto maior for o infortúnio na vida, mais brilhante será a comprovação dos benefícios da prática budista. Pode-se dizer que ‘carma’ é outro nome que se dá à ‘missão’. Nasci numa casa humilde de fabricantes de produtos de algas marinhas. Apesar de fraco e de sofrer de tuberculose, enfrentei inclusive a angústia da falência dos negócios junto com o presidente Toda. Por ter experimentado as amarguras da vida como um simples cidadão, hoje conduzo o movimento em prol do Kossen-rufu como um líder do povo.
Talvez os senhores estejam pensando que vieram para o Brasil por mero acaso, cada um devido a seus motivos. No entanto, não é exatamente isso. Os senhores nasceram como Bodhisattvas da Terra para realizar o Kossen-rufu do Brasil, para conduzir as pessoas deste país à felicidade e para construir aqui a terra da eterna paz e tranquilidade. Ou melhor, os senhores foram convocados pelo Buda Nitiren Daishonin para cumprir essa tarefa. Quando tomarem consciência da sua sublime missão como nobres Bodhisattvas da Terra e viverem pelo Kossen-rufu, o sol do infinito passado latente no interior dos senhores irradiará seus raios para transformar as causas negativas do passado como o evaporar do orvalho e abrirá diante de seus olhos um sereno curso de vida repleto de felicidade e jubilosas alegrias.
Se a senhora observar seus sofrimentos com os olhos do Budismo, verá que sua vida é como o papel da heroína representado por uma famosa atriz, que em casa, certamente, não passa necessidades. A história da senhora é igual aos dramas da vida desempenhados no palco, os quais têm um ‘final feliz’. Não se preocupe. A senhora conquistará a felicidade. Eu lhe garanto que isso acontecerá sem falta. Assim como a grande atriz atua com prazer no seu papel de heroína, espero que a senhora se erga do abismo da tristeza e desempenhe seu papel no grandioso drama da revolução humana. Todas as pessoas são desbravadoras, que caminham pelo inexplorado campo da sua vida. Não há outra forma de desbravar e arar o curso da vida a não ser por si mesmas. É preciso esforçar-se com toda a persistência, manejando a enxada chamada prática da fé para plantar a semente da felicidade em sua vida. As gotas de suor derramadas em prol do Kossen-rufu se transformarão em pérolas de boa sorte que coroarão magnificentemente a sua vida por toda a eternidade. Por favor, torne-se a pessoa mais feliz do Brasil”.

Conclusão

O presidente Toda disse, sobre a lei geral de causa e efeito: “Uma lei superficial não tem nada a ver conosco que vivemos nos Últimos Dias da Lei”. E continua: “Necessitamos de uma lei suprema que nos habilite a ultrapassar as barreiras das causas e dos efeitos para evidenciar a natureza de Buda inata em nossa vida. Foi Nitiren Daishonin que, respondendo a esta necessidade, estabeleceu a Lei para demolir o destino que continua desde existências passadas e assim reconstruí-lo melhor. Isto é, a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo é a fórmula da mudança da vida para um destino melhor. Por meio dessa fórmula, as causas e efeitos intermediários desaparecem e emerge o verdadeiro mortal comum” (Guia Prático do Budismo, p. 4).
O Daimoku, recitado com senso de missão de Bodhisattva da Terra, é o que transforma a sua vida. Recite Nam-myoho-rengue-kyo e manifeste a iluminação. Quando o estado de Buda emerge da sua vida, tudo é transformado tal como o nascer do Sol que instantaneamente elimina toda a escuridão da noite.
Certa vez, explicando sobre esse ponto, o presidente Toda disse: “Mesmo ficando doentes, devemos manter a atitude de que ‘Estou bem. Sei que se orar ao Gohonzon vou melhorar’. O fato de manifestarmos o estado de Buda já não confirma que somos capazes de viver desfrutando uma completa paz espiritual? Porém, pela razão de o estado de Buda conter os outros nove estados, em algumas ocasiões ainda poderemos ficar irados ou nos surpreendermos; pois o fato de desfrutarmos uma paz espiritual não significa que eliminamos a ira, por exemplo. Uma preocupação ainda continua sendo uma preocupação. Contudo, em nosso interior, sentimos uma profunda paz espiritual. A pessoa que manifesta essa condição de vida é chamada de Buda”.
A felicidade existe em meio à luta. Ao enfrentar as adversidades com fé, você manifesta o estado de Buda. A iluminação elimina o carma negativo porque anula a escuridão fundamental — a origem de todo o sofrimento cármico. Dessa forma, você transformará radicalmente a sua realidade a partir da raiz. Portanto, comece agora, recite Daimoku e lute com a convicção de que seu carma é missão.
“Mesmo o carma que gera uma retribuição de sofrimento infernal pode ser expiado neste exato instante; não gradativamente, ou em algum momento hipotético e distante no futuro”
Daisaku Ikeda
(TC, ed. 491, jul. 2009, p. 42.)

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