segunda-feira, 2 de maio de 2016

Criação de Valor

Capa da edição atual

Edição 572 - Publicado em 16/Abril/2016 - Página 16

Somos felizes quando criamos valor.
“Criar valor” é valorizar cada pessoa. É também a sabedoria que capacita o ser humano a transformar perdas em ganhos, mal em bem e sofrimentos em alegria. Sendo assim, somos felizes quando valorizamos o ser humano que está à nossa frente; quando, sem nos abatermos pelas circunstâncias, transformamos o veneno em remédio.

Nesta matéria, entenda como a valorização de cada pessoa e a sabedoria para transformar o veneno em remédio se fundem numa atitude transformadora do ser humano e da sociedade.Valorizar a vida humana

Na SGI, aprendemos que “criar” se refere à criação de algo a partir do nada. “Valor” é valorizar a dignidade da vida humana.
A filosofia budista esclarece que “vida humana” não se limita ao ser humano, refere-se ao ser e seu ambiente, que são inseparáveis (esho funi). Na expressão “vida humana” estão inclusos o meio ambiente, os animais e a vida em todas as suas manifestações.
Na atual sociedade, em que prevalece o desrespeito à vida humana, criar valor consiste em “dar existência” ao “respeito à vida” a partir de condições em que esse respeito não existe. Esse é o propósito da SGI — e realizá-lo é promover o bem-estar social a partir da “criação de valor”(kosen-rufu).
Criar valor é viver criativamente, fazendo de cada atividade humana um gesto de valorização da dignidade da vida. Nessa ação se encontra a verdadeira felicidade.

Partindo da conclusão do Sutra do Lótus

Valorizar cada pessoa (como se fosse o Buda) — essa é a mensagem conclusiva do Sutra do Lótus pregado pelo fundador do budismo, o buda Shakyamuni.
O Sutra do Lótus é o ensinamento mais importante de Shakyamuni, pois nele está revelada implicitamente a essência do budismo — a verdade de que a Lei Mística, que abarca e sustenta todas as coisas no universo, existe dentro do ser humano. Essa Lei transcendente e universal, inerente ao ser humano, chama-se Nam-myoho-renge-kyo.
Por meio da recitação do daimoku com fé no Gohonzon uma pessoa consegue ativar plenamente seu potencial iluminado. Recitar o daimoku, e propagar o Gohonzon, é fundir-se com a Lei eterna e imutável que transcende o “eu” limitado e finito. Essa fusão da pessoa e Lei é a felicidade que capacita o ser humano a estabelecer a paz na sociedade.
Tudo começa com o reconhecimento da existência do Nam-myoho-renge-kyo dentro da vida do ser humano. Essa é a fé budista, ou a fé no Gohonzon. Ter fé que o Nam-myoho-renge-kyo existe dentro de si e do outro é acreditar que todas as pessoas são budas da forma como se apresentam — o princípio budista da iluminação de todas as pessoas (iluminação universal).
O Sutra do Lótus ensina que a missão dos discípulos das gerações futuras, após o falecimento do Buda, é propagar essa fé para o mundo e criar condições para cada pessoa ser feliz por meio da manifestação do seu potencial iluminado.
Essas duas ações — propagar a fé e criar condições — definem o que é valorizar cada pessoa. Dessa forma, o meio de cumprir a missão revelada no Sutra do Lótus é criar valor.
A propagação da Lei Mística não se limita à divulgação de uma religião, é a propagação da conduta humana mais elevada (criar valor) onde ela não existe. Essa conduta é a atitude benevolente e corajosa de respeitar a dignidade da vida humana. Por meio dessa atitude, damos o exemplo concreto do que é revelar a existência do Nam-myoho-renge-kyo na própria vida.
“Criar valor” é essa atitude benevolente — a forma mais elevada de valorizar cada pessoa. Criar valor é fazer manifestar o Nam-myoho-renge-kyo na própria vida e na do outro.

O último a chegar

O conceito de “criação de valor” aparece no capítulo final do Sutra do Lótus, “Encorajamento do Bodisatva Mérito Universal”, precisamente com a chegada do bodisatva Mérito (Valor) Universal, que se atrasou para uma cerimônia que durou oito anos.
Graças ao atraso do bodisatva, a conduta do buda Shakyamuni nos deu um exemplo do que é valorizar o ser humano sem ser influenciado pelas circunstâncias. Acompanhe a história.
Quando a pregação do Sutra do Lótus chegava ao fim, repentinamente, eis que surge no Pico da Águia o bodisatva Mérito Universal vindo do leste, acompanhado de “grandes bodisatvas num número imensurável, ilimitado e indescritível”. (BS, ed. 1.570, 2 set. 2000, p. 3)
Quando soube que Shakyamuni estava expondo o Sutra do Lótus no distante mundo saha, ele reuniu uma quantidade incalculável de bodisatvas e correu para o Pico da Águia. Ao chegar à assembleia, imaginando que o Buda estaria descontente com seu atraso, Mérito Universal assumiu uma expressão séria e imediatamente fez o juramento de proteger os praticantes do Sutra do Lótus após o falecimento do Buda.
Satisfeito com a sinceridade de Mérito Universal, que de pronto jurou proteger os que propagariam o Sutra do Lótus pelo mundo inteiro, o Buda elogiou-o calorosamente com um entusiasmo maior do que havia demonstrando aos que estavam na cerimônia desde o começo.
O elogio de Shakyamuni surpreendeu a todos, inclusive o próprio Mérito Universal, que, com a mesma rapidez de sua iniciativa ao fazer o juramento, pediu ao Buda que explicasse como as pessoas poderiam viver com o mesmo espírito do Sutra do Lótus após o falecimento do Buda.
A pergunta foi certeira. Em resposta, Shakyamuni explicou sobre as quatro condições da prática do Sutra do Lótus:
“Se os bons homens e mulheres preencherem as quatro condições na época após o Buda ter entrado em extinção, eles compreenderão este Sutra do Lótus. Primeiro, devem ser protegidos e considerados pelos budas. Segundo, devem plantar as raízes da virtude. Terceiro, devem entrar no estágio em que estejam convictos de alcançar a iluminação. E quarto, devem ter a determinação de salvar todos os seres vivos” (Ibidem).
Ao ouvir as quatro condições, Mérito Universal jurou: “Se houver alguém na época maligna e corrupta que aceite e abrace este sutra, eu o protegerei” (Ibidem). Ele prometeu ainda “libertá-lo do declínio e do mal” (Ibidem) e garantiu que nenhum ser “conseguirá tirar vantagem dele” (Ibidem).
E disse também:
“Se essa pessoa se esquecer de uma única frase ou verso do Sutra do Lótus, prontamente a ajudarei a ler e a recitar até que compreenda. (...) Quando a vida dessas pessoas chegar ao fim, mil budas lhes darão a mão, tirarão seu medo e não permitirão que caiam nos maus caminhos da existência. (...) Após o Buda ter entrado em extinção, farei com que (o Sutra do Lótus) seja amplamente propagado por todo o Jambudvipa (o mundo inteiro) e providenciarei para que (ele nunca seja esquecido e que sua propagação) nunca chegue ao fim” (Ibidem).
Feliz com a disposição do bodisatva Mérito Universal, Shakyamuni declarou:
“Portanto, Mérito Universal, se encontrar uma pessoa que aceite e abrace este sutra, deve se levantar e cumprimentá-la de longe, demonstrando-lhe o mesmo respeito que dirigiria a um buda” (Ibidem).
Essas foram as últimas palavras de Shakyamuni no Sutra do Lótus.

O bodisatva
“Criação de Valor”


Para entender a “criação de valor” como sabedoria que transforma veneno em remédio, vamos começar pelo nome do bodisatva Mérito Universal.
Nichiren Daishonin explica: “No nome Mérito Universal, ‘universal’ refere-se ao princípio do verdadeiro aspecto de todos os fenômenos, a verdade essencial e imutável incorporada ao ensinamento teórico [do Sutra do Lótus]. E ‘mérito’ expressa a ideia de sabedoria, a sabedoria que atua de acordo com as circunstâncias mutáveis, incorporada ao ensinamento essencial” (Gosho Zenshu, p. 780).
Sobre a frase de Daishonin, o presidente Ikeda comenta: “A ‘sabedoria que atua de acordo com as circunstâncias mutáveis’ significa criação de valor” (BS, ed. 1.570, 2 set. 2000, p. 3).
Tanto no nome quanto na postura, o bodisatva Mérito Universal expressa a sabedoria que nasce do ato de valorizar cada pessoa tendo como critério o valor mais supremo que ela possui: a vida ou estado de buda.
Voltando ao nome do bodisatva, “universal” representa o princípio da iluminação de todas as pessoas (iluminação universal). Ou seja, todas as pessoas são budas da forma como se apresentam. Essa é a verdade imutável incorporada no ensinamento teórico do Sutra do Lótus.
Acreditar ou aceitar essa verdade é bem difícil. As pessoas geralmente se autodepreciam ou desvalorizam umas às outras por se apegarem às circunstâncias mutáveis ou aparência externa. Como elas se definem e julgam as pessoas com base em valores externos circunstanciais, não conseguem reconhecer o valor supremo da vida em si e nos outros.
Um exemplo de apego a valores externos circunstanciais é valorizar, ou desvalorizar, uma pessoa por sua posição social, títulos acadêmicos, condição financeira, capacidade intelectual etc.
A “sabedoria que atua de acordo com as circunstâncias mutáveis, incorporada ao ensinamento essencial” é a capacidade de, mesmo em meio às circunstâncias adversas, reconhecer e trazer à tona o potencial iluminado inerente a si mesmo e aos outros. É agir, sem nunca perder de vista a verdade de que todas as pessoas são budas, mesmo que as circunstâncias ofusquem esse fato. É a sabedoria de reconhecer o ouro, mesmo que ele esteja coberto de lama e fazê-lo brilhar.
O reconhecimento do Nam-myoho-renge-kyo em si mesmo e, consequentemente, no outro é a fé — fonte da sabedoria que transforma o veneno em remédio e atua de acordo com as circunstâncias mutáveis. O presidente Ikeda afirma que “a fonte da criação de valor é a fé. Ter fé significa ter uma esperança ilimitada. Independentemente das circunstâncias serem boas ou más, mesmo que pareça lutar uma batalha perdida, deve se levantar convicto de que não será derrotado e, a partir daí, mostrar claramente a prova real do ilimitado potencial da Lei Mística. Esse é o verdadeiro propósito da fé! Sem dedicar todo nosso ser à criação de algo a partir do nada, não conhecemos o que é a fé genuína. O intenso desafio de criar valor, transformar a perda em ganho, o mal em bem, a mesquinhez em beleza. Esse é o espírito Soka. Isso é fé” (BS, ed. 1.579, 11 nov. 2000, p. 3).

Valorizar cada pessoa sem ser influenciado pelas circunstâncias

Como indicado pelo nome do capítulo do Sutra do Lótus, “Encorajamento do Bodisatva Mérito Universal”, o incentivo está relacionado à “criação de valor”.
A sabedoria da “criação de valor” consiste em transformar o negativo em positivo. Para isso, não se deve fingir que não existe sofrimento e nem ficar preso a ele. A fim de converter veneno em remédio, devemos, em primeiro lugar, levar em conta o sofrimento e, então, se valer da sabedoria para convertê-lo em alegria.
Ao julgar a capacidade do ser humano, não levamos em conta as circunstâncias externas. Elas são mutáveis. Adotamos como critério a verdade de que todos são budas da forma como se apresentam.
No caso do incentivo, deve-se considerar a condição da pessoa e encorajá-la adequadamente, de acordo com a sua situação. O encorajamento cria valor quando é coerente com a condição da pessoa que é incentivada.
Para entender melhor, tome como exemplo o ouro coberto de lama. Ao atribuir valor ao ouro, não levamos em conta o barro (circunstância mutável) e sim o que está por baixo da lama. Atribuir valor é um ato de fé. Significa acreditar na verdade de que o ouro continua sendo ouro, mesmo coberto de lama.
Incentivar é limpar o ouro para que ele possa reluzir. Para uma limpeza eficaz, levamos em conta o tipo de sujeira e escolhemos a melhor maneira de fazê-lo brilhar. Essa é a fé convertida em sabedoria que atua segundo as circunstâncias mutáveis.
Essa sabedoria vem de dentro, quando o indivíduo tem a intenção de incentivar as pessoas para que manifestem o próprio potencial iluminado.
Tocar o coração de uma pessoa, despertar nela a força para transformar a realidade, só é possível quando se é incentivado por alguém que verdadeiramente compreende o seu sofrimento. Esse encorajamento será eficaz, inesquecível e se tornará um tesouro incalculável na vida de quem recebe.
Essa é a lição por trás do atraso do bodisatva Mérito Universal. Para exemplificar esse conceito, leia o relato do presidente Ikeda, que consta num diálogo sobre o atraso do bodisatva:
“Certa vez, orientei rigorosamente um líder da organização. Ele havia repreendido um membro na frente de todo mundo por ter chegado atrasado a uma reunião. Fiquei furioso quando soube disso e falei:
— Que direito você tem de repreender aquela pessoa? Isto é ultrajante. Aquele membro abriu um espaço em sua atarefada agenda para participar do movimento pelo kosen-rufu. Nas atividades, os companheiros da fé devem se apoiar e se elogiar mutuamente.
Isso foi há bastante tempo. Mas a questão é muito mais importante hoje em dia em que a economia enfrenta dificuldades. Orientar uma pessoa sem saber de sua condição financeira, nem de sua situação em casa, é o mesmo que dizer palavras vazias. Não devemos cair na formalidade. Não devemos nos tornar autoritários.
Em alguns casos, seria melhor dizer a alguém que estiver com problemas no trabalho:
— Eu irei à reunião e depois lhe contarei o que ocorreu. Assim, por favor, concentre-se em seu trabalho.
Essa consideração proporciona um encorajamento indescritível.
Em outras ocasiões, talvez o que a pessoa necessite ouvir seja algo como: 
— A base da boa sorte é criada dando tudo de si tanto no trabalho como nas atividades da Gakkai. Esta é sua chance de transformar seu destino. Vamos fazer o máximo juntos!
Mesmo uma orientação rigorosa, se estiver embasada na profunda oração e sincera preocupação pela pessoa, com certeza tocará seu coração. No entanto, sem benevolência não é possível falar com exatidão a respeito das dificuldades alheias. A questão principal é que, quando realmente nos preocupamos com outra pessoa, brota uma sabedoria ilimitada. É isso o que o bodisatva Mérito Universal representa” (BS, ed. 1.570, 2 set. 2000, p. 3).
A Dra. Sarah Wider, professora da Colgate University, em Hamilton, Estados Unidos, e ex-presidente da Associação Ralph Waldo Emerson disse: “Todas as pessoas possuem o potencial para se tornar ‘criadoras de valor’” (BS, ed. 2.108, 9 jan. 2010, p. A2).
Essa afirmação concorda com explicação do presidente Ikeda quando diz: “‘Mérito Universal’” significa que todos os seres dos dez mundos se tornaram pessoas dedicadas à ‘criação de valor’” (BS, ed. 1.570, 2 set. 2000, p. 3).
O incentivo que cria valor transforma os “seres dos dez mundos” (de qualquer condição de vida ou circunstância) em budas que criam valor.
Esse incentivo é expresso nas palavras finais do buda Shakyamuni: “Portanto, Mérito Universal, se encontrar uma pessoa que aceite e abrace este sutra, deve se levantar e cumprimentá-la de longe, demonstrando-lhe o mesmo respeito que dirigiria a um buda” (Ibidem).
O incentivo, que parte do princípio que a pessoa incentivada é um buda, desperta no incentivado o desejo de criar valor.
Ao encorajar a “criação de valor” não se deve aproximar do outro com ar de superioridade. É tratar a pessoa que está diante de você com o mesmo respeito que despenderia ao Buda.

Conclusão

O propósito da SGI é promover o bem-estar social a partir da “criação de valor”.
Para criar valor, é preciso reconhecer em si mesmo e no outro o potencial iluminado da vida — o estado de buda. 
A Dra. Wider afirma: “Quando as pessoas perdem de vista esse potencial (de criar valor), a tendência destrutiva passa a dominar a sociedade. Eu acredito que denominar esse grupo de pessoas que acreditam no potencial do ser humano e promovem o contínuo desenvolvimento humano como ‘Soka Gakkai’ — uma associação de pessoas que aprendem a criar valor — é algo de profunda significância” (BS, ed. 2.108, 9 jan. 2010, p. A2).
Quando encorajamos as pessoas a criar valor, superamos a tendência destrutiva que domina a sociedade. Na prática, por meio do “incentivo que cria valor” estabelecemos a paz e a felicidade no mundo.
Encorajamento que cria valor — quando feito com o mesmo respeito despendido ao Buda, reúne numa mesma ação a valorização de cada pessoa e a sabedoria que transforma mal em bem, sofrimentos em alegria. Essa é a atitude transformadora do ser humano e da sociedade. Portanto, criar valor e incentivar o outro a fazer o mesmo constituem o propósito da SGI. E viver por esse objetivo faz você mais feliz.
PRIMEIRA CONDIÇÃO — o Gohonzon. “Serem protegidos e considerados pelos budas” Significa ser protegido em consequência da reverência ao Gohonzon — a fonte da iluminação de todos os budas do passado, do presente e do futuro. SEGUNDA CONDIÇÃO — O daimoku “Plantar as raízes da virtude” É ter fé no Gohonzon (daimoku de fé) e recitar daimoku pela felicidade de si próprio e dos outros (daimoku de prática). Aqui se encontra a origem de toda benevolência. TERCEIRA CONDIÇÃO — A união harmoniosa dos membros (itai doshin) “Entrar no estágio em que estejam convictos de alcançar a iluminação” Refere-se à solidariedade com pessoas que se empenham continuamente e estão determinadas a nunca abandonar a fé. De forma concreta, ninguém preenche essas condições sem que faça parte de um grupo harmonioso de praticantes que abracem o ensinamento correto (Iluminação universal). QUARTA CONDIÇÃO — A propagação do kosen-rufu “Ter a determinação de salvar todos os seres vivos” É a realização decidida do kosen-rufu. O PROPÓSITO DA SGI “Soka” da denominação “Soka Gakkai Internacional” significa “criação de valor”. Portanto, em seu nome está claro que a missão da SGI é promover o bem-estar social por meio da “criação de valor”. Nisso reside também a razão de a Gakkai propagar o budismo de Nichiren Daishonin — uma religião humanista — com o propósito de transformar a sociedade a partir da mudança de cada pessoa. A sociedade é composta por pessoas. Para criar uma sociedade melhor, é preciso criar seres humanos melhores. O que define a excelência de uma pessoa é sua capacidade de criar valor. A “criação de valor” é a característica essencial dos seres humanos, é o que o define a humanidade de uma pessoa.

Uma vida engajada que transforma o mundo



Edição 2321 - Publicado em 30/Abril/2016 - Página C2/C3
Vida boa é vida engajada; é luta sem fim para realizar grandes sonhos que façam bem para muitas pessoas. 
Gente feliz tem senso de realização porque se dedica até o fim a compartilhar alegria e bem-estar com o máximo de pessoas.
Conheça a expressão “kosen-rufu”, termo utilizado pela primeira vez no Sutra do Lótus há mais de 2,5 mil anos que representa o ardente desejo do Buda de disseminar amplamente o princípio da transformação da vida e da sociedade. A maneira de propagar a Lei Mística é por meio de um engajamento no qual a transformação pessoal ao recitar daimoku e fazer shakubuku revoluciona o ambiente familiar, social e até a nação inteira.

Psicólogo analisa as condições do bem-estar


O Prof. Dr. Martin Seligman, psicólogo norte-americano, assegura que ter uma vida realizada é fazer “florescer” o caráter visando o bem-estar pessoal e coletivo. Isso se dá, ensina ele, quando a pessoa se dedica a mudar sua postura mental e torna sua vida realizada e engajada a um bem-maior. 
Os pontos principais que resumem o pensamento de Seligman são: positividade e otimismo, engajamento, relacionamentos saudáveis, vida com significado, conquista de objetivos e abundante vitalidade.

Vitalidade

Energia vital para conquistar o que deseja

Emoções positivas

Otimismo, felicidade e satisfação de viver

Engajamento

Comprometer-se com tudo o que faz dedicando o seu melhor

Relacionamentos positivos

Criar conexões com pessoas de forma significativa e autêntica

Propósito

Dedicar-se ao bem maior, uma causa maior do que si próprio

Realização

Cumprir tarefas com sucesso por meio de ações inspiradas

Mudança mental e altruísmo

As descobertas do Dr. Seligman tiveram origem na sua convicção de que há um imenso poder de transformação quando mudamos nossa postura diante da vida.
Em 1997, o psicólogo se encontrou com o presidente Ikeda, que afirmou num artigo: 
“Em essência, a teoria do Dr. Seligman é que as pessoas podem mudar sua vida. De que maneira? Mudando seu modo de pensar. Durante nosso diálogo, o Dr. Seligman comentou que, após a Segunda Guerra Mundial, a psicologia concentrou-se principalmente naqueles que tinham profundos problemas psicológicos. Entretanto, ele explicou que aspirava a uma ‘psicologia positiva’, que desse às pessoas comuns coragem, esperança e força. O Dr. Seligman confessa que ele próprio era pessimista por natureza, o que sem dúvida o estimulou a procurar uma forma de aprender a ser otimista”.
Uma vida plenamente feliz consiste em enorme energia e otimismo seguida, sempre, de um esforço contínuo para compartilhar o bem-estar. 
O próprio Dr. Seligman comenta: “Uma vida boa consiste em obter felicidade usando seus pontos fortes de caráter todos os dias nas principais atividades da sua vida. Um vida significativa tem, ainda, mais um componente: usar essas mesmas forças para compartilhar conhecimento, energia e bondade”.
Ao professor, o presidente Ikeda explicou que o modo de vida ensinado na SGI [o kosen-rufu] é ainda mais abrangente do que qualquer outro.
“Devotar-se ao kosen-rufu significa viver cada dia de forma honrada. Não existe uma vida mais grandiosa que a dedicada ao kosen-rufu”
Dr. Daisaku Ikeda
(BS, ed. 1.816, 22 out. 2005, p. A3)

Kosen-rufu — 
engajamento, realização, otimismo e compaixão


O budismo nasceu com Shakyamuni há cerca de 2,5 mil anos e desde lá nos ensina sobre “kosen-rufu”, um modo de vida engajado que transforma a si e ao ambiente. 
O Buda descreveu a lei fundamental da vida e despertou para a verdade máxima: devemos nos dedicar diuturnamente ao enriquecimento do mundo interior [coração] por meio de um contínuo esforço para respeitar, encorajar e compartilhar a felicidade com todas as pessoas. Kosen-rufu significa, então, utilizar-se de todos os meios para disseminar amplamente essa Lei que faz todos felizes.
Nichiren Daishonin, mais de 1,7 mil anos depois de Shakyamuni, se deparou com uma sociedade que havia deturpado o objetivo do Buda fazendo da felicidade absoluta [estado de buda] algo além do alcance das pessoas comuns por causa da complexidade da prática budista e da corrupção do clero. 
Daishonin voltou-se ao objetivo do fundador e tornou novamente acessível a qualquer pessoa manifestar estado de buda. Ele revelou a Lei Mística — o Nam-myoho-renge-kyo —, como prática a ser feita e propagada amplamente [kosen-rufu].
A SGI, 700 anos depois de Daishonin, revitalizou por completo seu budismo adotando para si o kosen-rufu: disseminar ao mundo o Nam-myoho-renge-kyo por meio do contato de pessoa com pessoa. 
A visão moderna dos Três Mestres Soka inseriu no cotidiano a revolução humana: um contínuo processo de profunda transformação pessoal com impacto na vida dos outros e no ambiente. A meta número um da SGI é tornar real o kosen-rufu — fazer florescer a felicidade absoluta em cada habitante do planeta e com isso criar uma nova sociedade pacífica, justa e harmoniosa.
“O kosen-rufu é um movimento revolucionário que tem por objetivo fazer com que o espírito da compaixão budista se torne a base da sociedade. É uma batalha contra a natureza maligna do poder que desdenha as pessoas e as despreza”
Dr. Daisaku Ikeda
(BS, ed. 1.999, 15 ago. 2009, p. A3)

Um sonho que vale a pena compartilhar


Somente pessoas de nobre e forte caráter conseguem tornar real um empreendimento tão ousado quanto o kosen-rufu. A SGI existe para capacitar todo indivíduo a adquirir essa força. 
Para disseminar o princípio do respeito absoluto pela vida ensinado pelo Buda, é preciso coragem, engajamento total, energia, sabedoria, resiliência e a incrível capacidade de combater a negatividade da sociedade por meio do diálogo e da vitória pessoal. O presidente Ikeda é o mestre do kosen-rufu porque treina pessoa por pessoa a “florescer” essa enorme força espiritual.
Cada membro da SGI é o ponto central do kosen-rufu e tem a missão de transformar a própria vida e revitalizar seu cotidiano. Assim, cada um dissemina os “valores Soka” em sua área de atuação: na política, na economia, na arte, na cultura, na educação, enfim, em todos os setores.
“O kosen-rufu é a suprema forma de diplomacia. Nós precisamos, acima de tudo, ter uma energia vital forte e magnética que atraia o coração das pessoas e coragem e perseverança para articular com determinação a filosofia e a verdade da SGI. [...] O comportamento como ser humano e o caráter — e não a posição social nem os títulos — são o que propulsionam o kosen-rufu”
Dr. Daisaku Ikeda
(BS, ed. 1.839, 15 abr. 2006, p. A4)

Todos conseguem mudar o mundo

Uma vida dedicada ao kosen-rufu é completa. Faz bem para a pessoa e provoca a felicidade absoluta na família e na sociedade.
A SGI conduz cada indivíduo a ter engajamento, realização, transformação interna, felicidade, otimismo, assimilação de valores nobres, enriquecimento do caráter, abundante energia vital, relacionamentos saudáveis, dedicação ao bem maior, força mental para vencer obstáculos, resiliência, compaixão pelas pessoas, encorajamento; enfim, a lista de atributos é enorme. E tudo isso se dá em atividades que todos conseguem realizar: estudo constante, reuniões pequenas, diálogos, visitas, encorajamento, recitação do gongyo e do daimoku, shakubuku, etc.
O presidente Ikeda vem há décadas se dedicando sem recuo à ampla propagação do princípio central do budismo: a dignidade absoluta da vida. Ele, com isso, já transformou muitos aspectos do mundo e vem ensinando seus discípulos a também fazê-lo.
Sua forma de realizar a ampla propagação [kosen-rufu] é acreditar nas pessoas, tratá-las com total respeito, agir por elas, elogiá-las, criar condições para que floresçam.
De forma prática, o presidente Ikeda solidificou e expandiu a SGI para 192 países e territórios como uma estrutura mundial da revolução humana e do empoderamento.
Uma única pessoa que se levanta firmemente comprometida com o kosen-rufu vence, espalha essa felicidade amplamente para outras pessoas e transforma o mundo.


Carma é missão



Edição 546 - Publicado em 08/Fevereiro/2014 - Página 16

O poder que existe em você é ilimitado. Por mais difícil que seja seu destino, você pode mudá-lo definitivamente. O Budismo Nitiren ensina que não há adversidade ou sofrimento insuperáveis. Sim! É possível eliminar totalmente o carma negativo. Os sofrimentos cármicos são erradicados por completo por meio da aplicação do princípio de Ganken Ogo — a transformação do carma em missão. Nesta matéria, saiba como conquistar a felicidade absoluta e como eliminar os sofrimentos. Faça tudo isso agora, neste exato momento.
Liberte-se completamente
“Os sofrimentos do carma desaparecerão definitivamente — essa é a grande convicção de Nitiren Daishonin”, diz o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda. No escrito “Abertura dos olhos”, o Buda Nitiren Daishonin fala de si mesmo como alguém “completamente livre” das graves ofensas cometidas no passado. Segundo o líder da SGI, “isso significa que Daishonin erradicou totalmente seu carma negativo” (TC, ed. 454, jun. 2006, p. 44).
Parece inacreditável que o carma negativo possa ser eliminado por completo. É ainda mais difícil acreditar que a transformação cármica seja instantânea. Mas, tenha certeza, a eliminação é mesmo instantânea. Com o Nam-myoho-rengue-kyo, isso é perfeitamente possível. Para funcionar, você precisa acreditar que é possível e se libertar de antigos conceitos que o mantêm preso ao destino.
Sua liberdade começa com a transformação do carma em missão [Ganken Ogo].
Esse princípio esclarece que você, ao mudar a maneira de enxergar o carma, muda a sua realidade. O carma não é um destino imposto por uma força transcendental, e sim a missão que escolheu como oportunidade para evidenciar a força infinita que existe em você.
Até aqui, você pode pensar assim: “Legal, meu carma agora é minha missão”. Porém, nada acontece, e sua realidade é a mesma. Isso ocorre porque transformar carma em missão “não é uma questão de simples ponto de vista. A mudança do mundo começa com a mudança fundamental de nossa mentalidade. Este é um princípio-chave dentro do Budismo. A poderosa determinação de converter o carma em missão transforma radicalmente o mundo real”, defende o presidente Ikeda (TC, ed. 451, mar. 2006, p.10).
Mudar a mentalidade é transformar a escuridão em iluminação. A crença que existe em seu coração é o que determina sua forma de pensar, falar e agir. Portanto, essa ação que se desdobra em pensamentos, palavras e ações é um efeito da sua condição interna ou do seu estado de vida. Se esse estado for dominado pela escuridão, você sofre. Se for um estado iluminado, você é feliz e transforma sua realidade.
Por isso, uma simples mudança na sua maneira de pensar, falar e agir não transforma a sua realidade verdadeiramente, caso seu estado de vida permaneça o mesmo. Por exemplo, mesmo que pense positivamente, fale coisas boas ou faça boas ações, sua vida não muda. Ela não transforma porque a raiz da escuridão não mudou.
Essa ação que se desdobra em pensamentos, palavras e ações é o seu carma. A palavra “carma” significa ação. Sendo assim, carma não são suas circunstâncias de vida, mas a maneira de encará-las. Carma é a forma de pensar, falar e agir.
Imagine que neste momento esteja passando por dificuldades financeiras. Carma não é falta de dinheiro, contas atrasadas etc. Carma é a maneira como encara esses problemas, eles só serão seu destino ou seu carma se não os enfrentar.
O presidente Ikeda confirma isso ao dizer que “as dificuldades somente se tornam nosso carma ou destino se fugirmos delas sem uma luta. Dessa maneira, a derrota para um budista não está em não encontrar dificuldades, mas em não desafiá-las. Enquanto vivermos, devemos lutar. Precisamos viver e lutar tenazmente até o fim” (TC, ed. 454, jun. 2006, p. 44).

Um filme que se repete

Ao pensar sobre o carma, o que você sente? Medo ou coragem, desespero ou esperança? Você vive com medo dos efeitos que poderão surgir?
Se diante das adversidades você reage com esperança, coragem e convicção, está livre das correntes cármicas.
Ao ensinar como transformar o carma, Nitiren Daishonin causou uma revolução diantes dos conceitos predominantes de sua época. Com isso, as pessoas reagiram fortemente porque estavam muito apegadas à visão do carma ensinada por outras escolas budistas. Tais visões seguiam sutras budistas provisórios e o senso comum de que era impossível a transformação do destino. O máximo que poderiam fazer era se resignar e aceitar a realidade imposta por uma força transcendental ou a própria lei de causa e efeito, que as pessoas acreditavam existir fora delas.
A visão das outras escolas é chamada de “ideia passiva de causalidade”. Essa foi a ideia propagada quando o Budismo foi introduzido no Japão e que “Nitiren Daishonin chamou de ‘lei geral de causa e efeito’” (TC, ed. 454, jun. 2006, p. 44).
O conceito da lei geral de causa e efeito expõe basicamente que o carma somente pode ser transformado quando o indivíduo sofrer os efeitos de todas as causas realizadas.
Certa vez, o presidente Ikeda explicou a lógica da lei geral de causa e efeito: “Não importando onde possamos estar, vivemos sob o efeito de tudo o que fizemos no passado. Diante dessa limitação regida pela causalidade, o que resta à vida é apenas se arrastar pelo destino imposto pelo carma. Assim sendo, nosso futuro é por demais obscuro, e nós, mortais comuns, achamos impossível mudar nosso destino” (Guia Prático do Budismo, p. 4).
Ainda a respeito desta questão, o presidente Toda disse: “Se nesta fria lei de causa e efeito [lei geral de causa e efeito] estivesse encerrado todo o Budismo, então teríamos de considerar o nosso destino fixo e imutável. Seríamos impelidos a viver passiva e timidamente para nunca errarmos” (Ibidem).

O drama do destino

A lei geral de causa e efeito continua muito presente nos dias de hoje e é o que as pessoas mais se apegam quando o assunto é carma. Essa mesma ideia está presente em vários outros ramos do conhecimento humano.
O psicanalista, livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Christian Ingo Lenz Dunker, escreveu:
“Muitos pacientes chegam ao consultório de psicanalistas declarando que sua vida está assombrada por uma mesma decepção, um mesmo desencontro, uma mesma situação que se repete ao longo do tempo. Sigmund Freud chamava isso de neurose do destino, referindo-se a um sentimento permanente de fatalidade que se impõe a nossos esforços de mudança e transformação. É possível ver isso em inúmeras situações: no sofrimento do benfeitor sempre retribuído com ingratidão; da mulher que termina traída em todos os relacionamentos ou dos amantes que sempre enfrentam os mesmos problemas, independentemente de qual parceiro escolham. Esse é o autêntico problema da tragédia: quanto mais a pessoa procura fugir do destino, melhor ele se cumpre.
Também os heróis gregos da repetição ilustram o processo: Sísifo levando sua roda montanha acima; Atlas segurando o peso do mundo; Prometeu acorrentado ao próprio fígado, em contínua consumação pelos abutres; as Danaides tentando encher o tonel de água sem notar que o líquido sai pelo furo não percebido; Cassandra, condenada a dizer permanentemente a verdade sem que ninguém acredite em suas palavras” (Revista Mente e Cérebro, edição especial 35, p. 36).
Tendo esses exemplos como base, uma pessoa que vive de acordo com a lei geral de causa e efeito sente muito medo de agir, pois quer controlar todas as causas que faz. Vive constantemente se policiando com mil olhos. Dificilmente, agirá porque só o fará depois que souber o tamanho do seu carma.
A tendência desse indivíduo será a de sempre agir da mesma maneira, nunca tentar algo novo, com isso sua vida não muda.
Nitiren Daishonin, no escrito “Carta de Sado”, observa: “É impossível sondar o carma de uma pessoa” (WND, p. 303). Portanto, você nunca saberá o tamanho do carma. Quem acredita na lei geral de causa e efeito sofre porque se sente incapaz de lidar com os desafios da vida diária. Simplesmente a felicidade se torna impossível de existir no cotidiano desse indivíduo. O passado dele é lamentação, o presente é inércia e o futuro amedrontador.
A psicologia compartilha da mesma visão apresentada por Daishonin de que é impossível saber a extensão do carma, conforme se constata nas palavras do Dr. Dunker: “O neurótico anseia de forma ardente saber exatamente qual é a cota de liberdade que lhe foi destinada, ou seja, quanto ele tem no ‘banco da fortuna’ [destino] para realizar a viagem da vida, para montar o espetáculo de sua existência, para apostar no jogo da existência. Se soubéssemos disso antecipadamente, poderíamos avaliar nossas escolhas de forma mais justa e parcimoniosa. Mas este não é o caso — e nem o acaso. Temos de viver sem saber se estamos tentando atravessar o Oceano Atlântico em um barquinho de papel, ou, em vez disso, se estamos nos trancando no condomínio seguro e asfixiante de nosso eu, para nos defender de perigos imaginários, feitos de água e açúcar, em nosso pequeno copo particular” (Revista Mente e Cérebro, edição especial, p. 37).
Além disso, a ideia passiva da lei geral de causa e efeito faz o Budismo ser encarado como uma religião escapista, cujo ensinamento visa atingir um estado de paz interior por meio do isolamento em retiros e montanhas. Essa noção errada faz as pessoas desejarem uma utopia ou um paraíso afastado da realidade.
No cotidiano, essa ideia utópica pode ser traduzida como aqueles pensamentos de que “algum dia serei feliz” ou “quando eu viver em tal situação ideal, ficarei bem”. Essa ideia transmite a crença de que a felicidade existe nas circunstâncias positivas e que as dificuldades devem ser evitadas a todo custo.
O presidente Ikeda disse que “essa filosofia incita as pessoas a almejar uma utopia ou um paraíso afastado deste mundo de sofrimento. Enquanto permanecerem apegadas a essas visões, não reconhecerão o espírito, a essência da prática budista” (Explanação Abertura dos Olhos, p. 272).
Sobre a visão correta do Budismo Nitiren, o líder da SGI afirma: “O Budismo genuíno não anseia por uma utopia em algum reino imaginário. Ao contrário, é uma filosofia que busca transformar a realidade e que aspira à construção de um mundo ideal, aqui mesmo, neste conturbado mundo saha. O foco do Budismo é despertar as pessoas para seu poder inato, capacitando-as a desenvolver a força espiritual para superar quaisquer tempestades que venham a encontrar no cotidiano” (Ibidem).

Entenda a causalidade da Lei Mística

O Budismo propõe que para mudar o carma é preciso encarar as dificuldades e as resolver definitivamente. Para ter sucesso, você deve mudar em seu coração o tipo de lei de causa e efeito em que acredita e baseia a sua vida.
Vamos esclarecer três pontos sobre a lei de causa e efeito:
1. Existem dois níveis da lei de causa e efeito.
No nível superficial está a lei geral de causa e efeito; e no profundo, a causalidade da Lei Mística [Myoho-rengue].
2. Ambos os níveis determinam e influenciam seu estado de vida interior. Eles influenciam a sua mente que, por sua vez, define a sua realidade.
3. A lei geral de causa e efeito prende a sua vida aos nove estados de vida. Por outro lado, a causalidade da Lei Mística revela o seu estado de Buda.

Resumindo

A lei geral de causa e efeito se limita somente aos nove estados porque você fica preso às circunstâncias externas.
A causalidade da Lei Mística manifesta seu estado de Buda porque o liberta das circunstâncias e evidencia seu potencial interno ao máximo. Essa iluminação transforma a sua realidade.
A respeito disso, o presidente Ikeda diz que “O Buda Sakyamuni esclareceu o princípio da causalidade, que influencia e determina o estado de vida de uma pessoa aqui e agora, a cada instante” (TC, ed. 470, out. 2007, p. 41).
De acordo com o princípio budista dos dez estados de vida, todas as pessoas têm o potencial para manifestar os dez, do estado de Inferno ao estado de Buda. Mas por que é tão difícil manifestar o estado de Buda e tão fácil manifestar os outros nove?
Porque a lei de causa e efeito do estado de Buda — a causalidade da Lei Mística — não é conhecida pelo senso comum e é difícil de ser aceita devido ao apego das pessoas com a lei geral de causa e efeito.
A lei geral de causa e efeito está mais arraigada no senso comum e, por isso, as pessoas se familiarizam melhor com ela. Exemplos da facilidade do raciocínio da lei geral: uma causa positiva leva a um efeito positivo, uma causa negativa leva a um efeito negativo. Ou seja, você faz uma causa e recebe o efeito dessa causa no futuro. Outras visões sobre causa e efeito se assemelham à lei geral; por exemplo, a lei da ação e reação, a do olho por olho e dente por dente etc.
Várias religiões, filosofias e ciências adotaram essa lei geral como parte integrante de sua visão de mundo.
Do ponto de vista da causalidade da Lei Mística, causas positivas ou negativas manifestam o efeito do estado de Buda [princípio budista da transformação do veneno em remédio]. Qualquer circunstância serve como estímulo para evidenciar o estado de buda.
Outro ponto, causa e efeito ocorrem ao mesmo tempo, não existe um tempo entre os dois.
Da ótica da causalidade da Lei Mística, as circunstâncias da sua vida presente não são consequências de causas de vidas passadas porque existe um tempo entre causa e efeito, que não são simultâneos. Sendo assim, essa visão não corresponde à causalidade da Lei Mística. O presidente Ikeda confirma isso ao escrever: “Quando Sakyamuni insistiu: ‘Não procure explicações para o seu retrocesso, atue para o seu avanço’, criticava a visão de mundo do seu tempo, que considerava as circunstâncias de nosso nascimento na presente existência determinadas pelo carma acumulado em vidas passadas” (TC, ed. 537, maio 2013, p. 20).
Ainda sobre o mesmo tema, em outra ocasião o líder da SGI escreveu: “A causalidade, por meio da qual o carma de vidas passadas se manifesta em nossa presente existência, é a que denominamos ‘causalidade geral’ [lei geral de causa e efeito], caracterizada pela não simultaneidade de causa e efeito. Ao contrário, a ‘causalidade simultânea’ alude à causalidade com a qual revelamos nosso estado de Buda, ou seja, vencemos nossa ignorância neste momento e tomamos contato imediato com a força vital do estado de Buda inerente. A primeira ideia de causalidade representa uma ‘mudança sequencial’, enquanto a segunda constitui uma ‘mudança instantânea’” (TC, ed. 491, jul. 2009, p. 42).

Dois níveis de causa e efeito

Reforçando a ideia sobre os dois níveis de causa e efeito, leia a explicação do presidente Ikeda:
“Há dois níveis do princípio de causa e efeito. O primeiro é o da retribuição cármica simples. Ou seja, cada um recebe efeitos positivos ou negativos conforme as ações praticadas. Esse raciocínio ensina que realizar boas causas conduz à felicidade, à alegria, à tranquilidade, enquanto cometer causas negativas resulta em sofrimento, dor e angústia.
O segundo nível vai além dessa ideia e revela um princípio de causalidade mais profundo, que rege todas as manifestações da vida. O Budismo Nitiren ensina que, quando manifestamos o supremo estado de Buda inerente, realizamos o bem mais elevado e, por esse motivo, instantaneamente consolidamos um estado de felicidade inabalável. Em outras palavras, manifestamos o efeito ou o fruto da iluminação, revelando nossa natureza de Buda inata como seres dos nove mundos [mortais comuns]. (...)
Esse nível mais profundo de causalidade exposto pelo Budismo difere da lei geral de causa e efeito sujeita ao marco temporal. O que funciona nesse nível mais profundo é a simultaneidade de causa e efeito, que ensina que, mediante a mudança em nossa mente ou coração, manifestamos, instantaneamente, nosso estado de Buda intrínseco, aqui e agora” (TC, ed. 470, out. 2007, p. 41).

Transforme carma em missão

Em sua primeira visita ao Brasil em outubro de 1960, o presidente Ikeda participou de uma reunião de palestra e incentivou uma viúva que, diante das dificuldades extremas, tinha desistido de viver. O incentivo dele serviu como orientação para todos os presentes que viviam situações parecidas, e cabe para nós ainda hoje. Em sua orientação, ele explica sobre o princípio de transformar carma em missão [Ganken Ogo]. Suas palavras resumem o que foi apresentado até aqui, assim como consta no capítulo “Desbravador” da Nova Revolução Humana:
“O Budismo expõe realmente que, se uma pessoa comete algum mal contra seus semelhantes, terá de trilhar um curso de infelicidades como resultado dos atos negativos do passado. Entretanto, este é apenas um aspecto dos ensinamentos budistas. Se a vida se restringisse apenas a isso, as pessoas teriam de viver numa constante insegurança justamente por não conseguirem saber as causas negativas de existências passadas, tendo de carregar inclusive um grande complexo de culpa. Além disso, o destino seria algo previamente delineado e provocaria nas pessoas o desinteresse pela própria vida, tornando-as adeptas de um modo de vida passivo no qual a única preocupação seria a de não cometer nenhum mal.
O Budismo de Nitiren Daishonin transcende o limite da concepção superficial da lei geral de causa e efeito, de castigo e recompensa, e revela a natureza real da causalidade e a forma de como manifestar o estado de pureza da vida existente desde o infinito passado. Isso significa que uma pessoa deve viver em prol do Kossen-rufu consciente da missão como Bodhisattva da Terra.
O Budismo elucida um princípio chamado Ganken Ogo [Transformar carma em missão]. Significa que uma pessoa que deveria renascer numa circunstância de felicidade, como resultado dos benefícios da prática budista, nasce em meio às pessoas infelizes mediante seu próprio desejo justamente para propagar a Lei Mística.
Se uma pessoa que vive como uma rainha, sem dificuldades ou problemas, disser que se tornou feliz graças à prática do Budismo, ninguém ficará surpreso. Contudo, quando uma pessoa doente, pobre e menosprezada por todos transforma sua vida por meio da prática budista, tornando-se feliz e líder na sociedade, estará comprovando brilhantemente a grandiosidade desse ensinamento. Com isso, provocará em todos o desejo de seguir essa prática da fé. Se uma pessoa que sempre sofreu de pobreza conseguir ultrapassar essa situação, causará uma grande esperança em todas as pessoas que passam pelo mesmo tipo de sofrimento na vida diária. Por outro lado, quando uma pessoa muito doente se torna saudável e repleta de vitalidade, acenderá a chama da coragem no coração dos doentes. E aquelas que passaram por aflições por causa da desarmonia familiar e construíram uma família feliz se tornarão modelos para as pessoas que possuem problemas de relacionamento dentro da família. Da mesma forma, se a senhora, que perdeu o marido, se tornar feliz neste país cujo idioma sequer sabe falar e criar seus filhos de maneira admirável, será um espelho para todas as viúvas. Mesmo as pessoas que não praticam o Budismo vão procurá-la também em busca de conselhos e incentivos. Quanto maior for o infortúnio na vida, mais brilhante será a comprovação dos benefícios da prática budista. Pode-se dizer que ‘carma’ é outro nome que se dá à ‘missão’. Nasci numa casa humilde de fabricantes de produtos de algas marinhas. Apesar de fraco e de sofrer de tuberculose, enfrentei inclusive a angústia da falência dos negócios junto com o presidente Toda. Por ter experimentado as amarguras da vida como um simples cidadão, hoje conduzo o movimento em prol do Kossen-rufu como um líder do povo.
Talvez os senhores estejam pensando que vieram para o Brasil por mero acaso, cada um devido a seus motivos. No entanto, não é exatamente isso. Os senhores nasceram como Bodhisattvas da Terra para realizar o Kossen-rufu do Brasil, para conduzir as pessoas deste país à felicidade e para construir aqui a terra da eterna paz e tranquilidade. Ou melhor, os senhores foram convocados pelo Buda Nitiren Daishonin para cumprir essa tarefa. Quando tomarem consciência da sua sublime missão como nobres Bodhisattvas da Terra e viverem pelo Kossen-rufu, o sol do infinito passado latente no interior dos senhores irradiará seus raios para transformar as causas negativas do passado como o evaporar do orvalho e abrirá diante de seus olhos um sereno curso de vida repleto de felicidade e jubilosas alegrias.
Se a senhora observar seus sofrimentos com os olhos do Budismo, verá que sua vida é como o papel da heroína representado por uma famosa atriz, que em casa, certamente, não passa necessidades. A história da senhora é igual aos dramas da vida desempenhados no palco, os quais têm um ‘final feliz’. Não se preocupe. A senhora conquistará a felicidade. Eu lhe garanto que isso acontecerá sem falta. Assim como a grande atriz atua com prazer no seu papel de heroína, espero que a senhora se erga do abismo da tristeza e desempenhe seu papel no grandioso drama da revolução humana. Todas as pessoas são desbravadoras, que caminham pelo inexplorado campo da sua vida. Não há outra forma de desbravar e arar o curso da vida a não ser por si mesmas. É preciso esforçar-se com toda a persistência, manejando a enxada chamada prática da fé para plantar a semente da felicidade em sua vida. As gotas de suor derramadas em prol do Kossen-rufu se transformarão em pérolas de boa sorte que coroarão magnificentemente a sua vida por toda a eternidade. Por favor, torne-se a pessoa mais feliz do Brasil”.

Conclusão

O presidente Toda disse, sobre a lei geral de causa e efeito: “Uma lei superficial não tem nada a ver conosco que vivemos nos Últimos Dias da Lei”. E continua: “Necessitamos de uma lei suprema que nos habilite a ultrapassar as barreiras das causas e dos efeitos para evidenciar a natureza de Buda inata em nossa vida. Foi Nitiren Daishonin que, respondendo a esta necessidade, estabeleceu a Lei para demolir o destino que continua desde existências passadas e assim reconstruí-lo melhor. Isto é, a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo é a fórmula da mudança da vida para um destino melhor. Por meio dessa fórmula, as causas e efeitos intermediários desaparecem e emerge o verdadeiro mortal comum” (Guia Prático do Budismo, p. 4).
O Daimoku, recitado com senso de missão de Bodhisattva da Terra, é o que transforma a sua vida. Recite Nam-myoho-rengue-kyo e manifeste a iluminação. Quando o estado de Buda emerge da sua vida, tudo é transformado tal como o nascer do Sol que instantaneamente elimina toda a escuridão da noite.
Certa vez, explicando sobre esse ponto, o presidente Toda disse: “Mesmo ficando doentes, devemos manter a atitude de que ‘Estou bem. Sei que se orar ao Gohonzon vou melhorar’. O fato de manifestarmos o estado de Buda já não confirma que somos capazes de viver desfrutando uma completa paz espiritual? Porém, pela razão de o estado de Buda conter os outros nove estados, em algumas ocasiões ainda poderemos ficar irados ou nos surpreendermos; pois o fato de desfrutarmos uma paz espiritual não significa que eliminamos a ira, por exemplo. Uma preocupação ainda continua sendo uma preocupação. Contudo, em nosso interior, sentimos uma profunda paz espiritual. A pessoa que manifesta essa condição de vida é chamada de Buda”.
A felicidade existe em meio à luta. Ao enfrentar as adversidades com fé, você manifesta o estado de Buda. A iluminação elimina o carma negativo porque anula a escuridão fundamental — a origem de todo o sofrimento cármico. Dessa forma, você transformará radicalmente a sua realidade a partir da raiz. Portanto, comece agora, recite Daimoku e lute com a convicção de que seu carma é missão.
“Mesmo o carma que gera uma retribuição de sofrimento infernal pode ser expiado neste exato instante; não gradativamente, ou em algum momento hipotético e distante no futuro”
Daisaku Ikeda
(TC, ed. 491, jul. 2009, p. 42.)

As atividades da Soka Gakkai existem para romper os próprios limites



— Existem muitos requisitos importantes para um líder, mas hoje irei reconfirmar alguns pontos. Primeiro, para o líder do kosen-rufu, é óbvio que o mais importante é levantar-se com forte e vigorosa prática da fé. Tendo isto como base, deve adquirir uma vasta e profunda cultura. A escolaridade e conhecimento, da maneira como são, não se torna cultura. Manifestar o que aprendeu em forma de intelecto e discernimento, tornando-se o brilho do caráter, isso sim é a verdadeira cultura. Para tanto, é preciso continuar dia a dia os esforços de ler muitos livros, estudar, refletir e elevar a si próprio.
Ele continuou: 
— Em segundo lugar, para a jornada chamada kosen-rufu, é necessário ter saúde. Cada pessoa deve fundamentalmente cuidar da própria saúde. Evitar beber e comer demasiadamente e refletir sobre a maneira que se alimenta. Se sentir cansaço acumulado, elabore uma forma de descansar mais cedo. Realizar exercícios físicos todos os dias. Também é importante lavar as mãos e fazer gargarejos, e realizar procedimentos básicos como exames médicos periódicos sem negligência. Budismo é razão. É um erro pensar que, por estar praticando, estará bem mesmo se descuidando da saúde. Deve decidir profundamente “Vou me tornar saudável!”, e esforçar-se no daimoku e com sabedoria viver disciplinadamente. Este é o aspecto de um praticante.

Tradução das partes 52, 53 e 54 do capítulo “Eterna Felicidade” do volume 29 da Nova Revolução Humana publicadas nos dias 3, 4 e 5 de março no jornal Seikyo Shimbun.